quarta-feira, 9 de junho de 2010

Pecinha de teatro

A NOSSA AMIGA




Personagens

1.ª joaninha
3.ª joaninha
1.º jardineiro (dono da quinta)
2.ª joaninha
4.ª joaninha
2.º jardineiro (amigo do dono da quinta)


Comentador


É um dia lindo de Outono. O sol brilha e aquece a quinta, onde uma comunidade de insectos e pássaros trabalham, aproveitando aquele dia outonal.

Ouve-se um leve bater de asas.

(Salta a 1ª joaninha, muito assustada, olhando à sua volta).

1ª joaninha – Aqui há pulgões! Posso matar a fome... Sinto-me tão fraca... (murmura). Vou aproveitar restabelecer-me neste belo dia de Outono. (Delicia-se calmamente). Oh! Que movimento é este? Um insecto como eu? Uma joaninha! (Pergunta) Também vens para aqui?

2ª joaninha – Venho! Tenho andado à procura de comida... Só encontro de vez em quando (diz muito abatida).

  1ª – Fica aqui comigo. Isto parece calmo e a comida é boa.

2ª – Mas o que fazes aqui? Já cá estás há muito tempo?

1ª – Não. (parando de comer). Cheguei há pouco, mas este lugar parece agradável. Podes ficar e fazer-me companhia. Tem bastante comida. Há afídios, cochonilhas, ácaros e muitas flores...

2ª – Estou a ver...(Diz, olhando à sua volta).

Conversam. De repente, ouve-se um ruído).

2ª – Que barulho é este? (Pergunta, assustada).
  1ª – Acalma-te. Parece ser mais uma companhia. (Responde, a rir). Este lugar, além de bonito, está a tornar-se mais alegre.

  As duas olhando para uma recém-chegada.

2ª – Bem-vinda! De onde vens?

3ª joaninha – Não sei. Parei numa árvore para comer e comecei a ficar tonta. Andavam lá uns bichos humanos e fugi. Não sei como eles podem com aquele cheiro. Estavam a pulverizar as plantas com uns líquidos estranhos que me deixaram tonta!

1ª – Fica aqui connosco. O lugar é calmo e há bastante que comer.

  3ª – Se não vos incomodar, fico até restabelecer-me. Sinto falta de me alimentar e descansar. Aproveito a vossa hospitalidade.

  1ª (Interrompendo-a) – Nem penses. Se gostas do lugar, ficas connosco. Quando há comida, é para todos. E podíamos ficar juntas como uma família. É tão bom viver em comunidade! E temos de ser unidas.

3ª – Era tão bom!... E aqui não há o mau cheiro daquelas pulverizações e pós que os humanos colocam nas folhas das plantas.

   Observam a quinta, saltando de folha em folha, diz a

  1ª – Até podíamos pensar em lugares seguros para colocar os nossos ovos. Aqui, por enquanto, parece saudável para as nossas larvas poderem comer.

  3ª – Isso seria um sonho: viver em comunidade e criarmos os nossos descendentes num lugar calmo e saudável... Será que estou bem acordada ou a delirar dos produtos químicos que os humanos estavam a aplicar?

  1ª – Não, tudo é verdade. É pena que o ser humano não seja mais cuidadoso com a sua saúde e com a dos outros seres vivos...Nem sei como é que as plantas aguentam tanto veneno e tantas vezes...

  Enquanto conversam, descontraídas, fazendo já projectos, aparece a

4ª joaninha – Oh! Vocês moram aqui?

  1ª – Não. Todas nós chegámos há pouco tempo. E parece que escolhemos um bom lugar.

4ª – Vocês parecem muito alegres.

As outras três (em coro) – Sim. Nós vamos viver aqui. Não queres fazer parte da nossa comunidade?

   Ouvem-se vozes

  3ª – Oh! Que barulho é este?

  2ª – Calem-se, e vamos esperar aqui escondidas.

  Nesse momento, aparecem dois jardineiros.

  1º jardineiro – Comprei esta quinta mas tem tantos pulgões que não sei o que fazer.

  2º jardineiro – Que bela quinta! Isso dos pulgões resolve-se. Eu posso ajudar-te: com os químicos é mais rápido; sem químicos, pode levar mais tempo mas é mais seguro para todos.

Andam pela quinta observando e comentando.

2º – Mas eu não vejo tantos pulgões e pragas como isso!...

  1º – É verdade... (Procurando). O que se passa? (Continua procurando completamente admirado). Param, estupefactos.

As joaninhas encolhidas, cheias de medo, quase nem respiram. Pensam que os seus sonhos tinham acabado.

  2º – Olha, anda cá... Não acredito. Parece joaninhas. Ao tempo que não as vejo. Julgava que tinham desaparecido.

  1º – De que falas? 

2º – Não te aproximes, mas olha.

  Muito assustadas, nem se mexem. Murmuram

(Todas) – Estamos tramadas!

  1º jardineiro – Que bicho é esse?

2º – Ó homem, no tempo dos nossos avós havia tantas!

1º – Mata-se?

  Quietas e cada vez mais assustadas, as joaninhas não sabem se devem voar e fugir ou deixarem-se cair a fingirem-se mortas.

2º – Estás doido? Penso que tens aqui um tesouro...

1º – O quê?

2º – Li que as joaninhas fazem parte dos insectos úteis à agricultura.

  1º – Explica-me do que estás a falar.

2º – Se fosse a ti pensava em não usar venenos na quinta, senão vais matá-las. São elas que estão a limpar a tua quinta, comendo os pulgões. Vou ajudar-te a teres uma quinta bonita e saudável, uma verdadeira quinta biológica. Era muito bom se mais pessoas percebessem que os insectos são todos necessários e que nós ao querermos matar uns, deixamos outros sem alimento e desequilibramos tudo. Resultado, a Natureza não consegue trabalhar e é preciso usar os venenos, mas aqui não vamos estragar esta maravilha! Vamos fazer uma agricultura amiga da natureza. Vamos fazer agricultura biológica!

  As joaninhas continuam muito quietas e surpresas.

4ª joaninha (muito revoltada, diz baixinho) – Nem sabem que nós existimos... Se não tivesse tanta fome deixava os pulgões estragarem tudo!

   Os dois jardineiros afastam-se, enquanto o amigo do dono continua a explicar-lhe como aproveitar toda a ajuda que a própria Natureza lhe estava a oferecer.

  3ª joaninha – Por agora escapámos. O melhor é continuarmos a nossa vida e ter esperança que não façam a asneira de usar os tais venenos em cima das folhas para nos matarem e muitos mais bichinhos. 

  2ª (Aproximando-se da 1ª, diz baixinho) – Desde que cheguei, penso seres a minha companheira ideal. Por que não procurarmos umas folhas bonitas para colocarmos os ovinhos? Aqui as larvas têm um lugar saudável e assim não nos preocupamos.

  1ª joaninha (muito envergonhada, dizendo que sim com a cabeça) –Também simpatizei contigo, logo que chegaste! Mas se o tempo arrefece e tivermos de hibernar?! (Aproxima-se das outras e fala baixinho:) Se nesta quinta nos deixarem continuar a viver, podemos hibernar descansadas, amigas, porque não podíamos ter escolhido melhor sítio.

Uma delas – Na Primavera, quando acordarmos cheias de fome, teremos os campos cheios de flores e o delicioso aroma do pólen por todo o lado...

  Radiantes daquele local tão bonito e agradável, as joaninhas aconchegam-se e de tão contentes começam a cantar.

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F I M
Maria Inês Vargas- 2007

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